(pag. 125-126) O ESGALHADO
20 de Janeiro de 1918
Aqui no batalhão há um corneteiro que dá pelo nome de Esgalhado. O Esgalhado é um rapaz trigueiro, mais alto que baixo, fino e sucado de carnes, bem lançado, tirado das canelas. Tem no rosto perfeito, que a patine do sol e do vento recrestou, dois olhos vivos, muito vivos,destes que olham a direito, com insistência, quási impertinentes. E sobre o lábio um buço leve de guias arrebitadas. Pulsa-lhe a agilidade no corpo musculoso. Nado e criado lá pela Beira marítima, entre a Estrela e o Mar, conjuga em si as duas graças portuguesas — a serranil e a marinheira. Parado, poisa as plantas no chão e arqueia o busto,como quem vai a bordo sobre as ondas; e a andar, direito à meta, modela o corpo no geito alado do zagal, que, no viso dos montes, o pé fincado e o braço em funda, joga a lapada à testa do rebanho.
Com que olhes hão de olhá-lo as moças da sua terra!. ..
Adivinha-se ali um jogador de pau. Um destes faias da aldeia, lestos e atrevidos, que armam o reboliço numa feira.
E como é seco, esbelto, ardido, airoso, não lhe vai mal, por minha fé, aquele nome de Esgalhado.
Emfim um destes puros sangues lusitanos, já tão raros, estatuado pela força da terra e pelo sonho ardente das mulheres, e cuja maquette devia figurar num museu étnico, a atestar ao forasteiro as virilidades tersas da raça.
FUENTE: Memórias da grande guerra : (1619-1919) (1919), Author: Cortesão, Jaime, 1884-1960, Publisher: Porto : Renascença Portuguesa, Language: Portuguese, Book contributor: University of California Libraries, Collection: cdl; americana
Mostrando entradas con la etiqueta 1918- Jogador de Pau -Primeira Guerra Mundial. Mostrar todas las entradas
Mostrando entradas con la etiqueta 1918- Jogador de Pau -Primeira Guerra Mundial. Mostrar todas las entradas
jueves, 20 de enero de 2011
Suscribirse a:
Entradas (Atom)