sábado, 26 de junio de 2010

AMADO, Jorge. Jubiabá (1931). Rio de Janeiro: ed. Record,1982

A construção da identidade negra no filme "Jubiabá"

Maria Angela Pavan 1
Dennis de Oliveira 2
.......................Mas a distinção racial mais nítida é em relação a percepção corporal. Em várias passagens do filme, fica demonstrado (denotado) as distintas percepções corporais entre brancos e negros. Citamos algumas:
a-) morte e ausência – A Tia Luiza é internada e se ausenta no início do filme, com o corpo em movimento. A mulher do comendador morre com a degeneração do corpo que vai ficando cada vez mais inerte. O mesmo ocorre com o comendador, quando morre do coração no bordel. A degeneração do corpo dos personagens brancos infere um uso instrumental do mesmo, ao passo que o corpo em movimento, em transe, implica em uma percepção corporal próxima do sagrado, típica das culturas populares negras.
b) no viver – Lindinalva perde suas esperanças quando na morte de seu pai se vê sem alternativa e tristemente se prostitui. Já Roselda (representada pela atriz Zezé Motta) amiga de Baldo conta sua vida que foi pautada de muitas dores, mas de sua dor brota criatividade para dança, movimentos e sorrisos.
c-) castigo corporal/prazer corporal – o uso instrumental do corpo fica evidente também no castigo físico imposto pelo comendador a Baldo, o que implica em vilipendiar o corpo. Contrariamente a isto, após ser castigado, Baldo se masturba – o corpo que foi objeto do castigo do branco, é agora objeto de seu prazer.
d-) corpos em movimento – duas formas de corpos em movimento e de expressão pela dança na cena em que os capoeiristas liderados por Baldo cruzam as yayás – jovens negros e mulheres negras expressando, cada qual a seu modo, seus estilos negros.
e-) Pai Jubiabá – Hall afirma que estas características das culturas negras devem-se ao fato delas não terem o seu centro na logotecnia, por isto as formas de expressão se deslocam para estilos, musicalidades e corpo. O Pai Jubiabá, elemento central na construção da identidade de Baldo é um sujeito de poucas palavras e muitos olhares. A sua expressão facial já é suficiente para expressar os conteúdos necessários. Na verdade é um olhar que expressa também a eloqüência amorosa do pai.
f-) Baldo é capoeira e luta box – Quando o “empresário” Luigi o conhece e que levá-lo para o box, pergunta: “Você luta box?”, Baldo responde “Sou capoeira” (e não “luto capoeira”) – capoeira é uma forma de ser, é um elemento integrante da sua identidade e não uma atividade externa ao seu ethos. Lutar alguma coisa e ser uma coisa aparecem aqui como um diálogo complexo, entre uma lógica discursiva ocidental e outra negra.
http://www.usp.br/nce/wcp/arq/aconstrucaodaidentidade_2texto.pdf

1 Doutora em Multimeios pela Unicamp e professora da Universidade Metodista de Piracicaba. Membro do

Grupo de Pesquisa “Processos Mediáticos e Culturais” E-mail: gelpavan@hotmail.com
2 Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba. Coordenador do Grupo de Pesquisa “Processos Mediáticos e Culturais”. E-mail: dennisoliveira@uol.com.br

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