lunes, 4 de enero de 2010

GRAVADO:Revista Illustrada Ano 3 13 de Julho de 1878 Nº120 (chins)
“Essa fazenda foi do capitão Simão Dias dos Reis1, um dos mais inteligentes lavradores do município de Paraíba do Sul. Tinha ótimas instalações e máquinas de sua invenção, além de outros melhoramentos introduzidos na cultura da terra.
O capitão Simão Dias dos Reis era filho da província de Minas e aparentado do Tiradentes. Sem nunca ter frequentado qualquer curso, era homem de verdadeira ilustração, tendo-se feito por si, em seu gabinete. Foi sempre considerado o pai de seus escravos. Nunca deixou de concorrer para obras de caridade e servir a seu país, quer nos cargos de eleição popular, quer nos de nomeação do governo, como veremos já. Celebrizou-se em toda a zona por ocasião da construção da Estrada de Ferro Pedro II, pois, quando chegaram as obras, em 1867, a Entre-Rios, originaram-se ali grandes desordens, que terminaram em morticínios. Nessa época era o capitão Simão Dias delegado de polícia e resolveu acabar com as arruaças, provocadas quase sempre por uns “portuguesinhos” de Serraria. Esses se uniam a pretos capoeiras e divertiam-se provocando para briga os trabalhadores da estrada, fato que repercutia em jornais da Corte. Com boas maneiras, procurou o delegado a resolver a situação, o que não conseguiu. então de boa escolta seguiu para Entre- Rios e deu ordem de não ser permitida a entrada dos desordeiros na povoação, mas eles não se intimidaram e tentaram passar pelos soldados. Diante disso o delegado deu ordem de fogo e cinco malfeitores caíram mortos, cessando dessa data em diante todas as ocorrências de polícia em Entre-Rios.

1 Foi desse fazendeiro uma das mais argutas observações sobre a incapacidade dos libertos de se autodeterminarem, dada a dependência total dos brancos que viviam, caso a Abolição ocorresse abruptamente, como ocorreu e ele não viu, pois faleceu dois anos antes do descalabro da lavoura e nascimento das favelas. Foi a conclusão lógica a que chegou, ao observar o que ocorrera a seus escravos quando das manumissões reportadas adiante. Não há em nossa vida pública outro de tanta lucidez.
2 Texto original de Pedro Gomes da Silva, extraído do livro Capítulos de história de Paraíba do Sul. 1ª ed. Paraíba do Sul / Rio de Janeiro: Irmandade Nossa Senhora da Piedade, 1991, pp.182-183.

http://www.institutocidadeviva.org.br/inventarios/sistema/wp-content/uploads/2009/11/15_faz_da_reforma.pdf

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