BESTIALIZADOS OU BILONTRAS?
José Murilo de Carvalho
(do Livro “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001)
Mas as formas de entrosamento da ordem com a desordem iam além do simples uso de capoeiras em eleições. Capoeiras e capangas eram tradicionalmente usa dos também por políticos e poderosos em geral como instrumentos de justiça privada. Muitos capoeiras integraram a Guarda Negra que dispersava comícios republicanos. A própria polícia fazia uso deles como agentes provocadores ou informantes. O conúbio ia além da política. Diferentemente do que se pensa, por exemplo, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam. A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street doo Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. (21)
http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html
José Murilo de Carvalho
(do Livro “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001)
Mas as formas de entrosamento da ordem com a desordem iam além do simples uso de capoeiras em eleições. Capoeiras e capangas eram tradicionalmente usa dos também por políticos e poderosos em geral como instrumentos de justiça privada. Muitos capoeiras integraram a Guarda Negra que dispersava comícios republicanos. A própria polícia fazia uso deles como agentes provocadores ou informantes. O conúbio ia além da política. Diferentemente do que se pensa, por exemplo, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam. A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street doo Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. (21)
http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html
Dos cosas hay sumamente desagra-dables en Rio de Janeiro: los capoéirasy los comunicados en la prensa. Em-pecemos por los primeros. Los capoéirasson casi siempre negros u mulatos,hombres fornidos, acostumbrados, nosolo al uso del cuchillo, que por susproporciones puede calificarse de ma-chete, sino á un box especial muy di-fícil de aprender por la elasticidad deacero que en todo el cuerpo se requiere,y contra el cual no hay defensa posi-ble. Estos industriales que me atreveréá calificar de bravos de Rigoletto, sue-len operar unas veces por cuenta pro-pia con el plausible objeto de aligerarde paso al que sorprenden en un ba-rrio lejano á altas horas de la noche, yotras sous commande para satisfacer lavenganza personal de algún cobardeque encuentra más cómodo y más se-guro pagar 20 ó 30 mil reis, para queadministren una felpa á aquel á quienno se atreve á afrontar cara á cara. Loscomunicados en la prensa son á mimodo de ver muchos más odios que losmismos capoéiras, gracias á la libertadde imprenta de que aquí se goza. Elque tiene un resentimiento personalcon alguna persona, sea ésta quienfuere, desde el Presidente del Consejohasta el último empleado de consumos,coje la pluma, vierte toda su hiél ytodo su veneno sobre el papel, sin res-petar vida privada, afecciones de fa-milia, honra ni honor y después de po -nerlo como hoja de peregil le dá 10.000leis á un negro de los que de eso vi-ven para que le sirva de testaferro yvé publicada su catüinaria al díasiguiente en el periódico de más cir-culación de Rio. Algunas veces suelenpublicarse esos comunicados con laverdadera firma del que los escribe, encuyo caso se establece entre los anta-gonistas un torneo de más eres tú, quedura mientras á uno de los dos le que-da paciencia ó dinero para pagar esaspublicaciones que suelen ser caras.Cuando el escrito es anónimo ó firma-do por un pseudónimo, no se vá á lostribunales, pues nada se adelanta conhacer condenar al testaferro despuésde perder mucho tiempo y desembol-sar grandes cantidades, sino que setrata de averiguar bajo cuerda quiénes el autor y se le entrega al brazovengador de un capoeira, que cuandomenos le abre la cabeza.
ResponderEliminarArchivo diplomático de España, 30-6-1888, Pag 7