V — AS FESTAS
(pag 150) A hierarquia interna das companhias é muito menos pronunciada do que faz supor a sua nomenclatura militar (mestre ,contra-mestre)............... Todos os moçambiqueiros são homens. Embora o elemento branco seja relativamente numeroso em algumas companhias, é inegável a predominância numérica de homens de côr. Na companhia de Capivara todos, com exceção de três homens, são acentuadamente negroides. Todos, aliás, são parentes ou afilhados do rei que, por isso e por ser o mais velho, exerce uma autoridade talvez extraordinária que deve contribuir consideravelmente para manter coesa e disciplinada a companhia. Perguntado, a respeito de seu poder sobre a companhia, o rei nos respondeu: "Não é só na dança que me obedecem. E' que somos todos parentes: sou irmão do capitão, tenho netos dançando aqui. Quem não é neto, nem sobrinho, nem irmão, é afilhado." A farda dos moçambiqueiros consiste em calça, camisa e casquete, todos de côr branca. No peito usam fitas cruzadas de côr variável, de acordo com a companhia a que pertencem. Os casquetes ou gorros trazem adornos ou iniciais bordados em diversas cores. A camisa ou blusa também é bordada e enfeitada de pompons de lã. A bandeira de São Benedito, empunhada pelo rei, trás a imagem do Santo e o nome do bairro donde provém a companhia. O gorro do rei tem forma de coroa. Além disso, êle veste a opa azul de São Benedito. O paia é usado em ambas as pernas e consiste numa tira de couro com três guizos. O bastão é de madeira muito polida, mede 120 cm de comprimento e é um pouco mais fino do que um cabo de vassoura comum. Provavelmente, o bastão substituiu a espada, pois as lutas simuladas durante a dança apresentam as diversas posições usadas na esgrima.
FUENTE: Cunha, tradição e transição em uma cultura rural do Brasil (1947), Author: Willems, Emílio, Publisher: São Paulo, Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, Language: Portuguese, Digitizing sponsor: University of Toronto
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Misma fuente de arriba (pag 45).
ResponderEliminarOs participantes que formam uma grande roda repetem os vivas. Depois o jongueiro canta o primeiro "ponto", uma espécie de "adivinha"
ou desafio que precisa ser "desatado" por outro jongueiro. Somente a cuica acompanha o "ponto", mas depois, terminado o solo, o povo entra
na roda e repete inúmeras vezes as últimas palavras à guisa de estribilho, acompanhado dos tambús e do guaiá. A dança é circular, o passo
simples, mas de vez em quando os dançarinos, homens e mulheres, mudam de direção, girando rapidamente em torno de si próprios. Quem queira "desatar o ponto", grita "cachoeira" e imeditamente a dança cessa. O jongueiro que responde ao "ponto" de seu rival (geralmente há dois que se desafiam), inicia cantando a saudação aos santos, às autoridades e ao povo. Depois "desata" e canta novo ponto, possivelmente mais difícil. Com as dificuldades o entusiasmo vai crescendo aos poucos. Depois de algumas horas, os torcedores e dançarinos
são tomados de uma espécie de paroxismo: já não sentem cansaço, nem calor, nem frio, pois de outra maneira não se explicaria a extraordinária
resistência dos participantes que somente param quando o sol já está alto.
Durante o jongo (também chamado de angona) ouvem-se palavras aparentemente africanas como, por exemplo, zamba, guanazamba, calunga, ô karatá. Os que se destacam na cantoria e dança, são quase todos indivíduos de côr: pretos e mulatos escuros.