Pol Briand <polbrian@mandinga.fr>
http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/missao-france4sa-1906-sa
A matéria não é nova. Dois termos da capoeira bahiana tem origem certamente francesa, são o *aú* que em português é _pantana_ como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e *rolê*. Embora o *balê* ensina-se, acho que ainda hoje, com nomes de passos em francês, o mais provável é que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao _aú_ da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao _rolê_ da capoeira.Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e inteletuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional) [Kuhlmann, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança?, Campinas:Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1.] Antes da vinda dos franceses en 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro. [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF ; Celso de Sousa, La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive, Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006]Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20.Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram, ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de disordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada aliás perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino.Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos _truques_ (outra palavra francesa que substitue o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campionato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje procura-se recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo.Como sempre com essa fonte, o artigo citado traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade : "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dansa folclórica. É obviament piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se constroía por causa dos enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado"guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas -- jambes ou popularment 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que *é* extinta e a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929. Aliás, dizer que uma dança é folclórica significa que ela é extinta, praticadas apenas por grupos para espetáculos deste gênero. As danças vivas são rotuladas de 'populares', com todas as pechas associadas a esse termo.Espero ter interessado com este pequeno comentário.
-- Pol Briand----------3, rue de la Palestine F-75019 PARIStel. (33) 142 396 436
http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/missao-france4sa-1906-sa
A matéria não é nova. Dois termos da capoeira bahiana tem origem certamente francesa, são o *aú* que em português é _pantana_ como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e *rolê*. Embora o *balê* ensina-se, acho que ainda hoje, com nomes de passos em francês, o mais provável é que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao _aú_ da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao _rolê_ da capoeira.Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e inteletuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional) [Kuhlmann, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança?, Campinas:Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1.] Antes da vinda dos franceses en 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro. [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF ; Celso de Sousa, La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive, Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006]Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20.Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram, ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de disordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada aliás perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino.Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos _truques_ (outra palavra francesa que substitue o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campionato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje procura-se recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo.Como sempre com essa fonte, o artigo citado traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade : "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dansa folclórica. É obviament piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se constroía por causa dos enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado"guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas -- jambes ou popularment 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que *é* extinta e a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929. Aliás, dizer que uma dança é folclórica significa que ela é extinta, praticadas apenas por grupos para espetáculos deste gênero. As danças vivas são rotuladas de 'populares', com todas as pechas associadas a esse termo.Espero ter interessado com este pequeno comentário.
-- Pol Briand----------3, rue de la Palestine F-75019 PARIStel. (33) 142 396 436
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